domingo, 19 de janeiro de 2014

“Certo, eu nunca fui um cara perfeito, e pelo meu ponto de vista eu cometi bastante erros. E toda vez que eu perguntava: Amor, você está bem? Ela me respondia: sim amor, estou. Mas eu não entendia o por que ela sempre abaixava a cabeça para responder isso. Quando saíamos, ela vivia olhando pro nada, distraída e muito pensativa. E quando estava perto de mim, olhava no mais profundo dos meus olhos. Nenhuma garota sentiu por mim, o que ela sentiu. Ela me enxergava com outros olhos, ela sempre queria cuidar de mim. E eu a achava quase insuportável pelos seus ciúmes chatos, e quando ela pegava no meu pé então. E o nome disso era Cuidado! O tempo foi passando, e era como se ela estivesse cada vez mais distante. E foi aí que eu comecei a me ligar nela, claro, foi aí que eu fui percebendo que isso chegava a doer em mim. As coisas começaram a mudar de um jeito tão rápido, e impossível de parar. E eu me perguntava o que tinha havido com ela, o motivo da estranheza dela dos últimos meses… E eu simplesmente não conseguia enxergar. Aos poucos ela foi deixando de me procurar, me desesperei… fiquei louco cara. Então meus dias foram dedicados a uma única coisa, fazê-la feliz. E em um dia como os outros, eu liguei o computador e ela não estava online, achei estranho por que no final da tarde ela sempre estava ali me esperando entrar. Procurei, e simplesmente não estava mais lá. Tinha sumido, de algum modo tinha sumido. E eu tentei ligar pra ela, chamava chamava e ela não atendia. E me deu tristeza, me deu raiva, revolta. Somente por ela ter sumido assim, por não me procurar, por não me avisar. Deixei meu orgulho falar mais alto e resolvi que não iria correr atrás dela. E todo dia eu me sentia como se tivesse morrido uma parte de mim. Eu ia todos os dias aos lugares que costumávamos ir juntos, e ela não saia da minha cabeça. E o que mais doía em mim, era ver que ela não estava lá, segurando a minha mão, com aquela alegria de quem conhece um amor, sussurrando no meu ouvido o quanto me ama. Eu nunca mais a vi, e eu perguntei pra sua amiga: Ela está bem? e sua amiga respondeu: Você a conhece, eu acho. Eu passei a pensar em como eu deixava ela sozinha, que eu podia ter ligado mais, ter reclamado menos e ter exigido menos dela. Porque hoje, pouco, nem que fosse um pouquinho só dela aqui, me faria o cara mais feliz desse mundo. E no nosso mural em meu quarto eu escrevi: Se me amava, por que partiu? Tantas noites de insônia, tanta solidão. E eu lembro como se fosse ontem, ela em meus braços me pedindo pra eu apertá-la com força. Minha vida virou em torno disso, e tive que me acostumar. Seguir em frente, é o que fazemos mesmo quando não temos forças. Ninguém sabe o quanto isso doía em mim. Em uma noite escura, fui à praia, onde ela mais gostava de ficar, e lembrei o quanto aquela garota importava pra mim. Quando cheguei em casa, minha mãe me olhou e abaixou a cabeça. Entrei em meu quarto e lá estava escrito no meu mural, abaixo da pergunta que eu fiz: Eu também precisava saber que você me amava. Pensei que você lutaria por mim. Cara, como eu pude ser tão idiota? Por que eu não fui atrás dela. Isso foi o pior! Até que um amigo me mandou um link que tinha o nome dela. Cliquei ansioso, e era o seu blog. Eu sempre soube que ela tinha um, mas eu nunca me importei em ler. E quando eu comecei a ler pagina por pagina, lagrimas correram em meu rosto. Se eu ao menos tivesse prestado atenção em cada detalhe antes, eu não teria feito ela se sentir tão mal. Se ao menos eu tivesse lido como ela se sentia… Cada declaração, cada texto que ela dedicava a mim, e tudo o que ela tinha escrito ali hoje fazia algum sentido, e eu passei a entender. E nada que eu pudesse fazer, iria fazer as coisas melhorarem. E hoje eu vi, eu a perdi.”
— Autor Desconhecido  

quinta-feira, 5 de julho de 2012

PORQUE DÓI TANTO NÉ? MORTE EM VIDA!!!!!!!!!!! AI QUE ÓDIOOOOOOOOO DESSA DOR   TODA, DESSES ACONTECIMENTOS E TE TUDO QUE ME CAUSA ESSA FRAQUEZA

terça-feira, 26 de junho de 2012

Pode ser que a minha verdade seja para ti mentira.



"Abro o jogo! Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza. Há verdades que nem a Deus eu contei. E nem a mim mesma. Sou um segredo fechado a sete chaves. Por favor me poupem."








Uma mulher entra no cinema, sozinha. Acomoda-se na última fila. Desliga o celular e espera o início do filme. Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e se acomoda na quinta fila, sozinha também. O filme começa.


Charada: qual das duas está mais sozinha?

Só uma delas está realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afetos. Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa situação idêntica a da outra mulher. Ela tem uma família, ela tem alguém, ela tem um álibi.

Muitas mulheres já viveram isso - e homens também. Você viaja sozinha, almoça sozinha em restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento - há alguém a sua espera em casa. Esta retaguarda alivia a sensação de solidão. Você está sozinha, não é sozinha.

Então de repente você perde seu amor e sua sensação de solidão muda completamente. Você pode continuar fazendo tudo o que fazia antes - sozinha - mas agora a solidão pesará como nunca pesou. Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.

Isso não é nenhuma raridade, acontece às pencas. Nossa percepção de solidão infelizmente ainda depende do nosso status social. Se você tem alguém, você encara a vida sem preconceitos, você expõe-se sem se preocupar com o que pensam os outros, você lida com sua solidão com maturidade e bom humor. No entanto, se você carrega o estigma de solitária, sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo fácil de levar, como uma bolsa. Ela será uma cruz de chumbo. É como se todos pudessem enxergar as ausências que você carrega, como se todos apontassem em sua direção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! Por que ninguém aponta para a outra, que está igualmente sozinha?

Porque ninguém está, de fato, apontando para nenhuma das duas. Quem aponta somos nós mesmos, para nosso próprio umbigo. Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos. Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos. Relaxe. A solidão é invisível. Só é percebida por dentro.




Ninguém me conhece mesmo...



"Gostas de mim porque me vês todos os dias. Não gostas de mim pelo que sou, gostas pelo que faço ou não faço. Não sabes quem sou."

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Porque Tati, porque você insiste em me viver?


por que raios toda vez que eu to me achando muuuuito foda, muuuito feliz e muuuito amando algo, algum merda vem e me lembra que eu não sou porra nenhuma? Heim, Deus? Deeee-us, to falando com vocêêê!

"Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo."



"Você sempre me disse que sua maior mágoa era eu nunca ter escrito um texto sobre você. Nem que fosse te xingando, te expondo. Qualquer coisa. 
Você sempre foi o único homem que me amou. E eu nunca te escrevi nem uma frase num papelzinho amassado.
Você sempre foi o único amigo que entendeu essa minha vontade de abraçar o mundo quando chega a madrugada. E o único que sempre entendeu também, depois, eu dormir meio chorando porque é impossível abraçar sequer alguém, o que dirá o mundo.
Outro dia eu encontrei um diário meu, de 99, e lá estava escrito “hoje eu larguei meu namorado sentado e dancei com ele no baile de formatura”. Ele, no caso, é você. Dei risada e lembrei que em todos esses anos, mesmo eu nunca tendo escrito nenhum texto para você,
 eu por diversas vezes larguei vários namorados meus, sentados, e dancei com você. Porque você é meu melhor companheiro de dança, mesmo sendo tímido e desajeitado. 
Depois encontrei uma foto em que você está com um daqueles óculos escuros espelhados de maconheiro. E eu de calça colorida daquelas “bailarina”. E nessa época você não gostava de mim porque eu era a bobinha da classe. Mas eu gostava de você porque você tinha pintas e eu achava isso super sexy. E eu me achei ridícula na foto mas senti uma coisa linda por dentro do peito.
Aí lembrei que alguns anos depois, quando eu já não era mais a bobinha da classe e sim uma estagiária metida a esperta que só namorava figurões (uns babacas na verdade), você viu algum charme nisso e me roubou um beijo. Fingindo que ia desmaiar. Foi ridículo. Mas foi menos ridículo do que aquela vez, ainda na faculdade, que eu invadi seu carro e te agarrei a força. Você saiu cantando pneu e ficou quase dois anos sem falar comigo.
Eu não sei porque exatamente você não mereceu um texto meu, quando me deu meu primeiro cd do Vinícius de Morais. Ou quando me deu aquele com historinhas de crianças para eu dormir feliz. Ou mesmo quando, já de saco cheio de eu ficar com você e com mais metade da cidade, você me deu aquele cartão postal da Amazônia com um tigre enrabando uma onça.
Também não sei porque eu não escrevi um texto quando você apareceu naquela festa brega, me viu dançando no canto da mesa, e me disse a frase mais linda que eu já ouvi na minha vida “eu sei que você não gosta de mim, mas deixa eu te olhar mesmo assim”.
Talvez eu devesse ter escrito um texto para você, quando eu te pedi a única coisa que não se pede a alguém que ama a gente “me faz companhia enquanto meu namorado está viajando?”. E você fez. E você me olhava de canto de olho, se perguntando porque raios fazia isso com você mesmo. Talvez porque mesmo sabendo que eu não amava você, você continuava querendo apenas me olhar. E eu me nutria disso. Me aproveitava. Sugava seu amor para sobreviver um pouco em meio a falta de amor que eu recebia de todas as outras pessoas que diziam estar comigo.
Depois você começou a namorar uma menina e deixou, finalmente, de gostar de mim. E eu podia ter escrito um texto para você. Claro que eu senti ciúmes e senti uma falta absurda de você. Mas ainda assim, eu deixei passar em branco. Nenhuma linha sequer sobre isso.
Depois eu também podia ter escrito sobre aquele dia que você me xingou até desopilar todos os cantos do seu fígado. Eu fiquei numa tristeza sem fim. Depois pensei que a gente só odeia quem a gente ama. E fiquei feliz. Pode me xingar quanto você quiser desde que isso signifique que você ainda gosta um pouquinho de mim.
Minhas piadas, meu jeito de falar, até meu jeito de dançar ou de andar. Tudo é você. Minha personalidade é você. Quando eu berro Strokes no carro ou quando eu faço uma amiga feliz com alguma ironia barata. Tudo é você. Quando eu coloco um brinco pequeno ao invés de um grande. Ou quando eu fico em casa feliz com as minhas coisinhas. Tudo é você. Eu sou mais você do que fui qualquer homem que passou pela minha vida. E eu sempre amei infinitamente mais a sua companhia do que qualquer companhia do mundo, mesmo eu nunca tendo demonstrado isso. E, ainda assim, nunca, nunquinha, eu escrevi sequer uma palavra sobre você.
Até hoje. Até essa manhã. Em que você, pela primeira vez, foi embora sem sentir nenhuma pena nisso. Foi a primeira vez, em todos esse anos, que você simplesmente foi embora. Como se eu fosse só mais uma coisa da sua vida cheia de coisas que não são ela. E que você usa para não sentir dor ou saudade. Foi a primeira vez que você deixou eu te olhar, mesmo você não gostando de mim.
E foi por isso, porque você deixou de ser o menino que me amava e passou a ser só mais um que me usa, que você, assim como todos os outros, mereceu um texto meu."





"Só ele conheceu uma mulher corajosa que admitiu todos os medos, todas as neuroses,
todas as inseguranças, toda a parte feia e real que todo mundo quer esconder com chapinhas,
peitos falsos, bundas falsas, bebidas, poses, frases de efeito, saltos altos, maquiagem e
risadas altas. Ninguém nunca me viu tão nua e transparente como você, ninguém nunca soube
do meu medo de nadar em lugares muito profundos, de amar demais, de se perder um pouco de
tanto amar, de não ser boa o suficiente.
Só ele viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade,
meu choro baixinho embaixo da coberta com medo de não ser bonita e inteligente.
Só para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo
desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso."


"(...) A hipocrisia disfarçada de todos os relacionamentos era a maior causa de sua angústia indescritível. Ela tinha um nojo da dualidade de intenções dos seres humanos que ora amam, ora usam, e preferia a clareza da sacanagem e a certeza do vazio. 
(...)Quando o amor é falso, a mágoa é tão grande que você o trai amando justamente a falta dele."




(...) Eu nunca vou entender porque a gente continua voltando pra casa querendo ser de alguém, ainda que a gente esteja um ao lado do outro. Eu nunca vou entender porque você é exatamente o que eu quero, eu sou exatamente o que você quer, mas as nossas exatidões não funcionam numa conta de mais...
Mas aí, daqui uns dias.... você vai me ligar. Querendo tomar aquele café de sempre, querendo me esconder como sempre, querendo me amar só enquanto você pode vulgarizar esse amor. Me querendo no escuro. E eu vou topar. Não porque seja uma idiota, não me dê valor ou não tenha nada melhor pra fazer. Apenas porque você me lembra o mistério da vida. Simplesmente porque é assim que a gente faz com a nossa própria existência: não entendemos nada, mas continuamos insistindo."


(Tati Bernardi) 

domingo, 10 de junho de 2012

My shadow days are over now




Nunca serei contra o amar, mas o amar começa em si. 'Si' amar. É ai que está.  


"Did you know that you could be wrong
Some people been know to do it
All their lives
But you find yourself alone
Just like you found yourself before
Like I found myself in pieces
On the hotel floor
Hard times have helped me see
I'm a good man with a good heart
Had a tough time, got a rough start
And I finally learned to let it go
Now I'm right here, and I'm right now
And I'm open, knowing somehow
That my shadow days are over
My shadow days are over now
Well I ain't no trouble maker
And I never meant her harm
But it doesn't mean I didn't make it
Hard to carry on
Well it sucks to be honest (honest)
And it hurts to be real
But it's nice to make some love
That I can finally feel
Hard times let me be
I'm a good man with a good heart
Had a tough time, got a rough start
And I finally learned to let it go
Now I'm right here, and I'm right now
And I'm open, knowing somehow
That my shadows days are over
My shadow days are over now "

And swear you're right

sábado, 9 de junho de 2012

(Caio Fernando Abreu - Pálpebras de Neblina)
Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido freqüente demais, ou até um pouco (ou muito) chato. Mas, que se há de fazer, se eu estava mesmo muito triste? Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza, Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia. Resolvi andar. Andar e olhar. Sem pensar, só olhar: caras, fachadas, vitrinas, automóveis, nuvens, anjos bandidos, fadas piradas, descargas de monóxido de carbono. Da praça Roosevelt, fui subindo pela Augusta, enquanto lembrava uns versos de Cecília Meireles, dos Cânticos: "Não digas 'Eu sofro'. Que é que dentro de ti és tu? / Que foi que te ensinaram/ que era sofrer ?" Mas não conseguia parar. Surdo a qualquer zen-budismo, o coração doía sintonizado com o espinho. Melodrama: nem amor, nem trabalho, nem família, quem sabe nem moradia - coração achando feio o não-ter. Abandono de fera ferida, bolero radical. Última das criaturas, surto de lucidez impiedosa da Big Loira de Dorothy Parker. Disfarçado, comecei a chorar. Troquei os óculos de lentes claras pelos negros ray-ban - filme. Resplandecente de infelicidade, eu subia a Rua Augusta no fim de tarde do dia Tão idiota que parecia não acabar nunca. Ah! como eu precisava tanto de alguém que me salvasse do pecado de querer abrir o gás. Foi então que a vi. Estava encostada na porta de um bar. Um bar brega - aqueles da Augusta-cidade, não Augusta-jardins. Uma prostituta, isso era o mais visível nela. Cabelo malpintado, cara muito maquiada, minissaia, decote fundo. Explícita, nada sutil, puro lugar comum patético. Em pé, de costas para o bar, encostada na porta, ela olhava a rua. Na mão direita tinha um cigarro, na esquerda um copo de cerveja.
E chorava, ela chorava. Sem escândalo, sem gemidos nem soluços, a prostituta na frente do bar chorava devagar, de verdade. A tinta da cara escorria com as lágrimas. Meio palhaça, chorava olhando a rua. Vez em quando, dava uma tragada no cigarro, um gole na cerveja. E continuava a chorar - exposta, imoral, escandalosa - sem se importar que a vissem sofrendo. Eu vi. Ela não me viu. Não via ninguém, acho. Tão voltada para a própria dor que estava, também, meio cega. Via pra dentro: charco, arame farpado, grades. Ninguém parou. Eu, também, não. Não era um espetáculo imperdível, não era uma dor reluzente de néon, não estava enquadrada ou decupada. Era uma dor sujinha como lençol usado por um mês, sem lavar, pobrinha como buraco na sola do sapato. Furo na meia, dente cariado. Dor sem glamour, de gente habitando aquela camada casca grossa da vida. Sem o recurso dessas benditas levezas de cada dia - uma dúzia de rosas, uma música de Caetano, uma caixa de figos. Comecei a emergir. Comparada à dor dela, que ridícula a minha, dor de brasileiro-médio-privilegiado. Fui caminhando mais leve. Mas só quando cheguei à Paulista compreendi um pouco mais. Aquela prostituta chorando, além de eu mesmo, era também o Brasil. Brasil 87: explorado, humilhado, pobre, escroto, vulgar, maltratado, abandonado, sem um tostão, cheio de dívidas, solidão, doença e medo. Cerveja e cigarro na porta do boteco vagabundo: carnaval, futebol. E lágrimas. Quem consola aquela prostituta? Quem me consola? Quem consola você, que me lê agora e talvez sinta coisas semelhantes? Quem consola este país tristíssimo? Vim pra casa humilde. Depois, um amigo me chamou para ajudá-lo a cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso. E fui. Não por nobreza: cuidar dele faria com que eu me esquecesse de mim. E fez. Quando gemeu "dói tanto", contei da moça vadia chorando, bebendo e fumando (como num bolero). E quando ele perguntou "porquê?", compreendi ainda mais. Falei: "Porque é daí que nascem as canções". E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?

quarta-feira, 6 de junho de 2012


São quase meia-noite. E lembrar de você me fez entender a superfície emocional que eu tenho vivido desde o meu primeiro namorado. Eu sou blasé. O sentimento é profundo, a vontade grande, mas fica tudo entre a boca e o estômago. Eu engoli muito mais do que falei. 
Eu quis aceitar aquele colo, aquele beijo, aquele anel. Eu quis ver todos os dias, viajar juntos na primeira semana, eu quis atender cada telefonema. Eu quis dizer 'eu te amo' no primeiro mês. Mas meu discurso sempre tão racional não pode contradizer os meus atos. Não dá pra nos vermos todo dia, tem trabalho, faculdade, amigos, família. Não dá pra dizer que amo assim, em tão pouco tempo. Não dá pra dizer sim, sem ter um plano pra concretizar. 

Era como se eu não fosse eu a partir do início da relação. Eu viro alguém que poda as próprias vontades, seus desejos, alguém calculista: ligar uma vez por dia, sms só duas, mais que isso vira dependência. Se ver? Só um dia no fim de semana. Como eu consigo ser tão fria? 

Só que analisando não as relações, mais aqueles com quem namorei, acho mesmo que o problema não sou eu. Nunca me senti segura, nunca me senti nós. Me lembro de ter dito várias vezes pra um deles: eu me sinto solteira. E ele argumentar: Mas não está. O que eu sentia não importava, importava o status nas redes sociais. 

Não é à toa que não preciso esconder que estou com alguém, é que na verdade parece mesmo que não estou. Os olhos não brilham, as mãos balançam ao lado do corpo. Os dedos vazios de outros dedos. O coração dentro do peito e não na boca.